quarta-feira, 24 de novembro de 2010



Ás vezes (mentira, foi só hoje) ela sonha que o táxi não chega e ela está conversando uma conversa que ela nunca quis porque sempre soube muito bem das conversas que só pioram tudo, mas ela é levada pra cima mesmo depois de ter olhado lá de baixo pra sacada de um apartamento de onde uma risada que magoa mostra que tem ouvidos. Ela sobe, ela desce pra esperar na calçada (ela sempre acha que se ela estiver lá fora ele vai chegar mais rápido e não há explicação nenhuma pra isso), volta, entra no apartamento luxuoso de propriedade de dois vestinhos que ela mesma colocou um dia no varal. Ela percebe que alguém, um dos vestidinhos, se atrasou por conta da viagem dela, do táxi, de uma conversa que ela acabou de descobrir que não terminou e que o que faltou foi justamente a parte mais importante, aquela na qual ela ia deixar claro que é inocente, que foi injustiçada, que foi a pele e não a espada. Um vestido omisso sorri sem aprofundamentos e ela não se sente melhor por isso e nem mesmo (e muito menos) pelo ex-amigo que ela se surpreende montando uma árvore de natal...ela quase se encanta pela árvore (ela sente o gosto das lichias em qualquer bola vermelha salpicada de purpurina dourada) mas lembra que é ele quem está montando e dá de cara com a grávida que sorri desinformada de toda a situação (ela pensa que as grávidas estão em um momento de hipnose). Ela sai do apartamento de uma vez por todas (só faltam 30 minutos pro ônibus sair e o táxi não chegou) e fica na calçada à espera (talvez estivesse chovendo, ela não sabe, mas era cinza nessa parte). Ela se desespera, chora muito, mas é muito mesmo...como daquela vez em que foi deixada, lembra?! Ela implora pra outra grávida lhe ceder o seu táxi porque ela realmente está prestes a perder o ônibus (outro dia ela fingiu de grávida pra conseguir prioridade na fila do supermercado, mas ela nem lembra disso). Ela chora de doer, de gritar, de se contorcer até acordar mole, dolorida, sem voz, sem vontade, se arrastando até o chuveiro...

sexta-feira, 19 de março de 2010

das tranças, aquela.


E como se nao bastasse abriu o caderno e escreveu que era como uma dessas que procura pelo principe dessas de tranças longas e fitas descoloridas e desgastadas pelo tempo, que olha longe e sente frio, toma sopa uma vez ou outra e que anda de chinelos - com meias! sem se importar com qualquer outro gemido vindo de fora senão de sapos e cavalos. Anteontem acordou assustada, correu até a cozinha e se serviu de meio litro d’agua, estava afoita e teimava em encontrar alguem para contar que viu no sonho o tal principe, alguem que fechasse os olhos por um segundo só pra ver o sonho dela, só pra ver também o seu reflexo nos olhos do principe, mas a cozinheira - a gorda - já havia se deitado e nem o cocheiro que vivia de bebericos escondidos na cozinha estava ali hoje para ser o ouvido fiel e desejoso da menina, aquela. E assim com uma pureza só possível em certas noites, colocou ao seu lado a boneca pandora, sua única companheira desde sempre…também descolorida e desgastada pelo tempo, mas a boneca tinha olhos costurados e memória ruim, a boca era um risco e o nariz afundado pelo seu primo, ela nao parecia estar contente, nem a boneca, nem a garota, aquela. Foi quando ela respirou fundo, num desses momentos que só é possível respirar e isso já exige um esforço enorme e a pandora entendeu que devia permanecer quieta. Ela respirou, voltou ao quarto, viu que era tarde demais pra muita coisa e se decidiu em guardar os velhos óculos, descalçar os pés, desfazer as tranças, lavar os cabelos, despir-se da camisola acinzentada e nisso se foi quase a vida toda.

ana carla machado e fernando prado (via msn)

domingo, 3 de janeiro de 2010

QUEM MEXEU NO MEU QUEIJO GOSTOU!


É a velha história que diferencia os que sabem pescar dos que esperam para comer o peixe.
Mas, como no nosso caso tudo deriva do leite...é a velha, porém sempre repetitiva, história que diferencia os que cuidam das MÃES VACAS (porque aprenderam a extrair dela o leite nosso de cada dia e a fabricar honestamente todos os derivados) dos ratos que, tendo braços tão curtos (provavelmente preguiça genética de se alongar), esperam medíocre e diariamente uma oportunidade de abocanhar uma fatia de queijo....pobrezinhos!
Ora, sai ano e entra ano, os de braços longos realizam todo o processo de extração de leite das tetas generosas das MÃES até chegar ao queijo. Ah, o queijo!!! Não há ser humano(e muito menos rataria) no mundo que não suspire por uma fatia, não é mesmo. Se a goiabeira ao lado do curral nos oferece suas frutas então, a gente alongada coloca o tacho no fogo e já no final da tarde nos deliciamos com um shakespeariano “Romeu e Julieta”.Muita gente alongada tenta, faz, refaz, desfaz, mas um “bom feito de leite” não se fabrica facilmente. E se o caso é o de ser da raça dos de braços curtos e dentes avantajados, aí não há outra coisa a fazer senão ficar à espreita...que peninha, como são desgraçados na sua deficiência.
É fato: Quem mexeu no meu queijo gostou (e muito!). Caso contrário, não repetiria tanto o feito.
-Calma, tudo bem, não precisa se esconder assim, pequeno ser de braços curtos. Eu tenho coragem de trabalhar em minha cozinha e de cuidar do meu quintal, do curral, das goiabeiras e faço isso com tanto prazer. E, também, anotei direitinho as receitas todas de mamãe, que ela copiou de minha avó. Sim, é de família ter braços longos para o trabalho e para os abraços. Aaaaaaaaaaaaahhhhhhh braços...que delícia! Pode entrar, pequenino. Fique à vontade, por favor. Em minha casa não há ratoeiras. Posso alimentá-lo sempre e a todos os seus irmãos. Aqui o leite jorra fartamente todos os dias. E com minhas receitas, uma pitada de criatividade e, claro, muito charme, a todo hora estendo toalhas bordadas para servir queijo fresco, leite com chocolate, pudim, bolos, pão com manteiga, pãezinhos de queijo, biscoitos de nata e tantas outras guloseimas.
Será sempre um pequeno prazer meu alimentá-lo. A cada fatia roubada, tenho mais certeza do quanto o meu queijo é saboroso!
Ana (a de braços alongados).

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

À ESPERA


De repente... é como se tudo em mim ficasse suspenso à espera de Godot.

Ou da queda da meninazinha de olhos verdes de Quintana.

Aqui comigo, de pé na cozinha, misturo no liquidificador Estragon e Vladimir...depois bebo num único gole a primeira metade:

_"Nada a fazer."

_"Começo a ter a mesma opinião."

Então, olho pra cima sem piscar... um olho no 12º andar do ano e outro na calçada.

Tic-tac-tic-tac-tic-tac-tic-tac...

E as botas vão ficando tão apertadas e eu tão ansiosa para sentir meus pés descalços.

Que toquem todas as sirenas, as buzinas e reco-recos!

Atire-se dama louca!

Tic-tac-tic-tac-tic-tac...

E o derradeiro gole:

_"Então? Vamos embora?"

_"Vamos."

Tic-tac.

"É preciso dizer-lhes tudo de novo!"

Nenhum movimento.

Tic.

E todos também.

Tac.

"ES-PE-RAN-ÇA..."


Ana (à espera de 2010).


Para ler: "Esperança", de Mario Quintana e "Esperando Godot", de Samuel Beckett.




segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Bem-vindos!


Olá!

Nessa passagem de ano que tal mais um blog?!

Não, não gosto de leite... do gosto na boca, do cheirinho azedo, da cara de quem toma, do bigodinho branco nojento, do ritual matinal de alguns, mas a verdade é que me dou bem com os derivados (quase sempre!)...e, sim, quase tudo começa alí...no leite. Não?!

Este é só mais um espaço para escrivinhanças sobre tudo e sobre nada, sobre Teatro inclusive!

Ahhh...o teatro também é um derivado do leite, não duvidem.

Sejam muito bem-vindos!

E alimentem-se!

É preciso tomar algum cuidado com a osteoporose...

Até a próxima postagem!

Ana.